FECHAM AS PORTAS E ABREM OS CAMINHOS

terça-feira, 10 de julho de 2007

O CORUJJÃO CONTRA A REPRESSÃO:

FILMEDEBATE: CABEZAS CORTADAS - GLAUBER ROCHA - ESPANHA 1970.
QUINTA AS 18:H NO AUDITÓRIO DO IFCH.


DIVULGUEM!
ELDORADO EXISTE!!!!!!

segunda-feira, 9 de julho de 2007

POLÍTICA É PARA ESTUDANTE, SIM

Plínio Antônio Britto Gentil
Procurador de Justiça
Doutor em Direito das Relações Sociais
Professor do curso de Direito do IMESB


Depois de uma longa negociação, os estudantes da USP, em S. Paulo, deixaram a reitoria da universidade, que tinham ocupado há quase dois meses. O Jornal da Globo deu a notícia, no dia 22 de junho, e logo tascou no ar alguém intitulado cientista político, para dizer que estudante bom é o que só estuda e que política não é coisa para se fazer na universidade. Disse, com outras palavras, que bom mesmo é estar tudo calmo, em paz, mesmo que essa paz seja como aquela encontrada nos cemitérios, que é compulsória.
É de pasmar. Em pleno regime democrático, o Brasil que se alimenta da TV é obrigado a engolir preciosidades como essa, que deviam ter sido enterradas junto com o regime militar, finado há mais de vinte anos. Utilizando o mesmo argumento, o ministro da Educação do governo Geisel disse a estudantes que preparavam uma passeata que ficassem em casa. Rolava o ano de 1977 ou 1978. Por esses tempos foi que o coronel Erasmo Dias, secretário da Segurança de S. Paulo, comandou uma covarde invasão da polícia militar à PUC, com saldo de uma imensa depredação e vários estudantes feridos, alguns com queimaduras graves. Do perigoso material subversivo que a tropa foi lá procurar, encontrou livros de ciências sociais e faixas pedindo anistia e uma assembléia constituinte.
A democracia veio, em parte pelas mãos do próprio governo, que acabou com os poderes ditatoriais do presidente e mais tarde aprovou a Lei da Anistia. Depois veio a Constituinte. Mas para a mentalidade oficial, a dos que dominam, que se expressa através da Globo, política não é coisa para estudante; crise estudantil, se for brava, é caso de polícia.
Isso não é assim por acaso. Com a redemocratização do país, instalaram-se governos civis e, de Collor para diante – exceção feita ao período de Itamar Franco – passou a vingar, na economia e na política, o sistema chamado de neoliberal. Em nome dele foi reformada a Constituição e dela excluídos certos direitos sociais duramente obtidos e implantados em 1988. As “vantagens” dessas reformas, apregoadas pela mídia comprometida com o poder, não passam do resultado de pressões do grande capital financeiro que investe no Brasil, ou que financia a compra de nossos produtos, em geral matéria-prima, e que vê nos direitos trabalhistas, na previdência social e nas formalidades do nosso direito processual obstáculos para os seus ganhos.
Resumindo a ópera, nossa democracia é apenas formal, já que o grosso da população vota mas não manda nada. Nosso sistema econômico é muito conveniente para quem tem capital para investir a custos baixos, pagando salários de fome, e de preferência não tendo compromissos com a melhoria da vida do povo. É invejável para os bancos, que há muito tempo não lucravam tanto. É fantástico para os políticos profissionais, que, em regra, representam os interesses de quem tem dinheiro
Claro, portanto, dentro dessa lógica, que estudante é feito para estudar e política é coisa para políticos. Quanto mais chucra, dócil e passiva for a população, feita na maioria de assalariados, mais tranqüila será a vida do capitalista e dos que o representam no aparato do Estado. E onde, por definição, se forma - ou deveria se formar - uma camada de gente pensante? Na universidade. Ora, então é preciso convencer os universitários de que eles não têm nada a ganhar se metendo onde não são chamados.
Alguns dirão que os estudantes da USP – e seus colegas de outras instituições públicas – são privilegiados justamente porque estão lá e que, por isso, não são porta-vozes da massa assalariada. São privilegiados sim. Pela mesma lógica da desigualdade de oportunidades entre os que têm e os que não têm, os alunos dos cursos superiores públicos e gratuitos são, em boa parte, aqueles cujos pais desembolsaram rios de dinheiro para lhes pagar o ensino médio e o cursinho. Mas é aí que está o valor das suas manifestações. Porque são pessoas de famílias que, no mínimo, se dão bem no sistema e que poderiam ficar caladas pois, de um jeito ou de outro, acabarão se virando na vida: escaparam do destino de miséria e desilusão de quem vive na pobreza. E também porque falam menos por si e muito mais em nome dos desfavorecidos abaixo deles. São estes, na verdade, que sofrem mais duramente os efeitos de um sistema educacional centrado na escola-empresa, regida pela competição mais despudorada e que faz do ensino o equivalente a uma lata de conservas numa prateleira, cujo valor é determinado pelas leis do mercado.
Numa nova versão do “crescei e multiplicai-vos”, que dispensa investimentos estatais, esse modelo educacional foi alavancado no Brasil pela mesma onda que impôs reformas na previdência e que ameaça direitos trabalhistas E que fala em parcerias do Estado com empresas privadas, como se isso fosse um achado e não uma forma disfarçada de cada vez mais comprometer o poder público com interesses particulares, em benefício dos últimos.
Para quem não se lembra, o movimento dos universitários que, com erros e acertos, culminou com a ocupação da reitoria da USP, desabrochou justamente por conta de mal explicados – para dizer o menos – decretos do governo estadual que representam uma aproximação das universidades públicas ao modelo das particulares, subservientes às leis do mercado.
Pois bem. Os estudantes mudos e distantes da política que a mentalidade oficial sugere, pela voz da Globo, são aqueles acomodados que permanecem no conforto que sua posição lhes proporciona; são os que, trinta anos atrás, não se solidarizaram com os colegas da PUC espancados e queimados porque pediam anistia e constituinte; são os que não percebem que é impossível estar vivo e não fazer política e que a omissão é, sim, uma atitude política, mas conveniente apenas para quem tem o poder nas mãos; são os que fingem não notar as enormes injustiças de um sistema que incentiva o “ter” mas não permite que todos “tenham”; são aqueles que perderam a capacidade de se indignar com os desmandos dos poderosos que usam o Estado para dar tudo aos amigos e “a lei” para os outros. Não são estudantes, são mortos. Seus corpos descansam do que nunca fizeram e gozam a doce paz dos cemitérios.

domingo, 8 de julho de 2007

Balanço da greve e continuidade da luta!

GT Currículo Ciências Sociais - discussão e aprofundamento nas propostas de reformas curriculares dos departamentos de Ciências Sociais.
Terça-feira (10/07) - 12h - IH08

Reunião de balanço da greve - discussão/balanço sobre a greve do IFCH e das estaduais.
Terça-feira (10/07) - 17h no CACH

É importante que todos compareçam, pois só assim poderemos definir com mais clareza nossas propostas em relação ao currículo e discutir os problemas e acertos de nossa greve.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Ato contra as calunias veiculadas no Correio Popular contra a funcionária Vivien

Nós, funcionários e estudantes, reunidos neste dia 05/07/2007, diante da denúncia policialesca feita pelo jornalista do Correio Popular de Campinas, resolvem pedir que o STU tome atitudes imediatas; levando em conta que as ações da companheira Vivien foram votadas em assembléia dos funcionários e em assembléias conjuntas de funcionários e estudantes. Resolvemos exigir o seguinte:

1 . Que o STU coloque o Departamento Jurídico do Sindicato, total e prontamente, a serviço desta causa; e que o Sindicato solicite o apoio do DCE, da ADUNICAMP, do FÓRUM DAS 6 e da FASUBRA;

2. Que encaminhe o presente dossiê, anexo, e exija uma posição do SINDICATO DOS JORNALISTAS e de outros órgãos que representam os jornalistas como FEDERAÇÃO DOS JORNALISTAS E ABI(Associação Brasileira de Imprensa);

3 . Que o STU, no FÓRUM DAS 6 e junto o SINTUSP tome os mesmos procedimentos contra a FSP no que se refere ao companheiro Brandão, também atacada e caluniado;

4 . Que o STU encaminhe ao OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA, que sempre defendeu os jornalistas que sofrem opressão e violência, para que também se posicione, neste momento onde há jornalistas e jornais se comportando como policiais opressores;

5 . Propomos ainda que, enquanto não tivermos um desenlace satisfatório, cobraremos, em todas as reuniões sindicais e estudantis, através de moções e resoluções, que entidades democráticas e sindicais, se posicionem contra estes jornalistas caluniadores;

6 . Nos propomos, também, lutarmos sempre contra qualquer criminalização dos movimentos sociais e defender intransigentemente a liberdade de expressão, por isso é fundamental lutarmos pelo direito de resposta na imprensa para salvaguardarmos também o nosso direito de expressão;

7 . Que o STU encaminhe estas denúncias e todas que, eventualmente, formos obrigados a fazer, a todas as entidades sindicais, estudantis e democráticas;

8 . Que o STU encaminhe os dossiês e solicite espaço em toda a imprensa sindical e democrática;

9 . Gostaríamos ainda de relembrar a decisão da Assembléia dos funcionários, ao final da greve, que decidiu que, diante de qualquer punição, tanto a funcionários como a estudantes, o Sindicato chamará uma Assembléia com indicativo de greve contra as punições:

10 . Que, também, o FÓRUM DAS 6, diante deste ataque, que é um ataque ao nosso movimento, faça uma matéria paga para a Folha de São Paulo e Correio Popular de Campinas.

*um grupo se reuniu na sexta-feira 06/07 às 12h30 p/ entregar conjuntamente estas resoluções ao STU.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Manifestação ocorrida na Praça Tiradentes no dia 03/07 em Ouro Preto tem repressão policial truculenta

A manifestação PACÍFICA em favor do ensino público de qualidade e contra o sucateamento da universidade pública foi truculentamente reprimida pela polícia, que usou bombas de efeito moral, balas de borracha e desceu o cacete no pessoal, inclusive tem um povo de história que ficou ferido e estão internados. Também teve algumas prisões.

Fotos:
http://www.flickr.com/photos/9646287@N07/

Vídeos:
http://www.youtube.com/watch?v=uya_jMq-GDQ
http://www.youtube.com/watch?v=geiWOLvxGaU
http://www.youtube.com/watch?v=muhTPRBpVjw 
http://www.youtube.com/watch?v=-WISj6woHzg
http://www.youtube.com/watch?v=GvwxSF2HLw0
http://www.youtube.com/watch?v=Zrzc4L22AQU
http://www.youtube.com/watch?v=nJ8Q7QFd8UI

O mais interessante é que a polícia não intimou os estudantes para que o trânsito na praça fosse liberado, ela já chegou batendo. A reitoria da UFOP entrou com uma ação no ministério público contra a ação da polícia, as fotos das agressões foram anexadas no processo. Tem uma foto (que eu não consegui achar na internet) de um policial dando uma porrada com o cacetete no cara caído no chão.

* Mensagem enviada por email por estudante da UFOP

terça-feira, 3 de julho de 2007

Carta aberta dos estudantes do IA à comunidade acadêmica

Nós, estudantes do Instituto de Artes, segundo a última assembléia, decidimos pela retomada das aulas e atividades do semestre a partir do dia de hoje (02/07). Porém, continuamos apoiando o movimento e reiteramos nossa postura contra os decretos do governador José Serra, de acordo com a carta do Comando Estadual de Greve:

"1. Consideramos inconstitucional a criação da Secretaria de Ensino Superior, uma vez que uma Secretaria de Estado só pode ser criada através de lei aprovada pela Assembléia Legislativa, como prevê a Constituição Estadual, e não por decreto. Da mesma forma consideramos inconstitucional a separação entre ensino, pesquisa e extensão, realizada pelo decreto n. 51. 460, que separa as Universidades Estaduais da Fapesp e CEETEPS.
Sendo assim, continuaremos na luta pelo que entendemos ser legítimo fazendo atos por todo o Estado.
2. Não aceitaremos qualquer punição a alunos, funcionários e professores das Universidades Estaduais por motivos políticos de greve e seus métodos – inclusive piquetes, barricadas e ocupações. Também não aceitaremos de forma alguma a presença e permanência da Polícia Militar nos Campi, ..."

Caso haja qualquer tipo de punição aos alunos, funcionários e professores, o IA entrará em greve novamente.

Esclarecemos que continuaremos mobilizados, dentro e fora do instituto, a partir do que já foi realizado e construído, como:
- Parada Cultural
- Grupo de Estudos do IA
- Encontro das Artes
- Comitê Estadual de Greve

e com o aprofundamento de nossas discussões, que geraram novos espaços, como:
- Comissão para discussão da grade horária
- Assembléias mensais do IA
- Reuniões quinzenais dos estudantes da plásticas com os RDs (Representantes Discentes)
- Reuniões semanais dos estudantes da música; dança; cênicas; midialogia.

CARTA ABERTA DOS ESTUDANTES DE PÓS-GRADUAÇÃO DO IFCH À COMUNIDADE ACADÊMICA

Em assembléia realizada no dia 16 de maio de 2007, os estudantes de pós-graduação do IFCH deliberaram a incorporação ao movimento grevista, iniciado pelos estudantes de graduação no dia anterior.
Reiteramos que, tal como a entrada, a permanência na greve até a presente data foi sempre uma decisão coletiva e discutida em assembléia. Nossa permanência não se deu por outro motivo senão a justeza das reivindicações do movimento. Consideramos os decretos expedidos no início do ano pelo Governo Serra, um grave ataque à autonomia universitária, que a comunidade acadêmica não deveria aceitar de forma passiva. A decisão de permanecer em greve mesmo após o chamado “decreto declaratório” se deu porque entendemos que a autonomia universitária não se resume à autonomia financeira, ainda que reconheçamos sua importância. A autonomia acadêmica continua em risco.
Diante do exposto, rechaçamos veementemente qualquer tipo de punição. Não cabe a individualização de um movimento que foi construído coletivamente pelos estudantes de graduação e pós-graduação.
Consideramos a não revisão dos prazos para entrega de trabalhos também um tipo de punição, que não cabe a um Instituto que preza pela democracia. Reivindicamos, assim, a prorrogação do prazo para, no mínimo, dia 24/08/2007. Prazo imprescindível para elaboração de trabalhos academicamente qualificados.
Assumimos, portanto, o caráter coletivo do movimento grevista; todos participamos e somos responsáveis pelos métodos escolhidos e pelos rumos tomados! Não nos envergonhamos de defender a Universidade pública, gratuita e autônoma!!!

Campinas, 03 de julho de 2007.

O Correio mente, mais uma vez!!!

Correio Popular (27/06/2007)
Xeque-Mate - EDMILSON SIQUEIRA edmilson@rac.com.br

Delinqüência

Todos os "líderes" da invasão da diretoria acadêmica da Unicamp deveriam ser expulsos da universidade. Além de já terem cometido um ato passível de expulsão,desobedecem à ordem judicial e, agora, zombam da lei, fazendo ironia tanto contraseus superiores na escola quanto contra a Justiça. O caso vai além da simplesimpunidade: tanto a Justiça, que não obriga o cumprimento da sentença dereintegração de posse, quanto as autoridades educacionais, que hesitam em aplicar
alei, estão simplesmente incentivando a delinqüência. Falsa aluna E tem mais: segundo fonte da coluna, a mulher de tranças estilo dread lock ourastafari que apareceu na primeira página do Correio de ontem não é estudante daUnicamp, embora faça pose de "líder da ocupação". Trata-se de uma petista, deprenome Vívien, conhecida na Unicamp pelas suas campanhas pró-Lula e por suaparticipação nos movimentos dos servidores. Ou seja, não é só com estudantes que sefaz uma invasão.

Correio Popular (29/06/2007)
Confirmando 1


Um assíduo leitor da coluna - e petista ferrenho - enviou e-mail dizendo que aservidora da Unicamp flagrada fazendo pose de aluna invasora da diretoria acadêmicanão é petista e, mais, é crítica do governo Lula, ao contrário do que foi publicado.Pode até ser que ela tenha se desfiliado do PT, mas a fonte da coluna confirmou: "aVivien (esse seu primeiro nome) é clara e historicamente militante do PT, sobre tudo lulista, oriunda e formada nas comunidades eclesiais de base do Jardim São Vicente".Confirmando 2 A fonte garante ainda que "no movimento dos funcionários da Unicamp articuladecisivamente no grupo petista, de ferrenha oposição ao PCdoB". E, claro, o assíduo leitor dacoluna que quis contestar a nota em momento algum contestou o fato principal: elanão é aluna, mas faz parte da turminha que invadiu a diretoria acadêmica. Deveriaser demitida a bem do serviço público e por justa causa, já que cometeu falta grave.

Fonte: Correiro Popular Digital
Texto apresentado junto ao pedido de "Direito de Resposta" ao Correiro Popular:
Em resposta à nota da Coluna Xeque-Mate dos dias 27 e 29/06, trago ao conhecimentopúblico informações desconhecidas, ou propositalmente omitidas, pelo Sr. EdmilsonSiqueira. Aparentemente o Sr. Siqueira desconhecia o fato de eu ser funcionária da Unicamp e não aluna. Contudo, tal informação não trouxe nenhuma novidade ou surpresa àComunidade Universitária, uma vez que, por trabalhar na Unicamp há mais de 20 anos eestar sempre presente nas lutas dos funcionários, seja em campanhas salariais, sejaem movimentos em defesa da universidade, uma parcela bastante considerável dosintegrantes da Comunidade Universitária me reconhece.No momento da referida foto, não só eu, mas dezenas de funcionários, dezenas dealunos e inclusive um professor que havia acabado de fazer um debate com ospresentes, discutindo "a democracia", estávamos usando o crachá de LIDER DAOCUPAÇÃO, numa clara demonstração de solidariedade aos estudantes e de protesto àameaça da reitoria de punir os líderes da ocupação da Diretoria Acadêmica.Cabe lembrar que tal ocupação se deu no contexto de uma greve em defesa da AutonomiaUniversitária, movimento que teve participação dos três segmentos da Universidade -professores, funcionários e estudantes. Autonomia esta que, para além dos Decretosdo Governador Serra, está bastante ameaçada na Unicamp, visto que já há muito tempohá a implementação de uma política de redução de vagas de professores efuncionários, precarização e terceirização dos postos de trabalho, contingenciamentode verbas para política de recursos humanos e carreira dos funcionários, carreiraesta aliás, existente apenas no momento do CRUESP negar-se a atender a reivindicaçãode reajuste linear de R$ 200,00, com o insólito argumento de que prejudicaria acarreira dos funcionários. A Autonomia Universitária também está ameaçada a partir do ataque que é feito aocaráter público da universidade, vinculando suas pesquisas cada vez mais aosinteresses da iniciativa privada e de grandes empresas e agora, mais explicitamente,no ataque que está sendo feito à ocupação da DAC. O movimento estudantil tem o direito de decidir sobre suas formas de atuação, e escolheu o instrumento daocupação para expressar seu descontentamento com a política da administração dauniversidade. Isso não dá a ninguém o direito de condená-los ou solicitar puniçãoaos envolvidos no movimento. Há na universidade, local teoricamente do livre pensar, uma elite que se julga "donada verdade", e que se pretende a única com direito de expressão de suas opiniões.Tal elite qualifica a ocupação dos estudantes de violenta. Violento é o fato departe da moradia estudantil estar desabando, colocando em risco seus moradores.Violento é diminuir o quadro de funcionários e professores ao mesmo tempo em que seamplia vagas, de modo a causar sobrecarga de trabalho e diminuir a qualidade dosserviços prestados. Violento é inviabilizar negociação unilateralmente durante ummovimento que deveria ter a parceria dos reitores por se tratar da defesa dasUniversidades Públicas Paulistas. E violência maior é alardear listas de docentes daUnicamp condenando a ocupação e pedindo que medidas sejam tomadas para acabar com aocupação. Isso é fácil, senhores: basta que usem seu "poder de influência" parasolicitar ao Reitor da Unicamp que volte a negociar com o movimento estudantil aoinvés de fazer coro com os que criminalizam os movimentos sociais. O atual movimento grevista se concretizou num momento importante de reflexão arespeito de qual universidade estamos oferecendo à população. Com certeza precisamosrepensar uma universidade que, além de se entregar aos interesses do mercado, sefecha às camadas pobres da população, elitizando cada vez mais o acesso àuniversidade e que, infelizmente, opta pelo arriscado caminho da repressão e dodesrespeito às diferenças, na exata contramão de sua atuação em tempos difíceis dahistória brasileira. A greve dos funcionários foi encerrada com a declaração pública de apoio à greve dosestudantes e respeito irrestrito às suas formas de organização. A última assembléiada categoria aprovou também o retorno à greve caso haja alguma punição aosgrevistas, sejam funcionários, professores ou alunos. Outro aspecto, menos importante, mas que também explicita a desinformação do Sr.Siqueira e suas fontes, é que em 31/07/2002 o PT/Campinas protocolou minha cartarequerindo minha desfiliação ao PT. Fazia campanha para Lula quando sua candidaturatinha projeto radicalmente diferente dos de 2002 e 2006. Me orgulho de tê-la feito,assim como tantos outros lutadores e sonhadores de uma sociedade humanitária.Contudo, o PT de hoje, assim como seu presidente, não contam com o meu mínimo apoioou concordância. A insistência do Sr. Siqueira em afirmar que fiz pose de invasora e me vincular aoPT, mostra sua intenção de descredenciar o movimento estudantil da Unicamp, uma vezque é público que os funcionários da Unicamp, ao decidirem por sua saída da greve,aprovou "apoio à greve dos estudantes e o irrestrito respeito às suas formas deorganização".Quanto à opinião do jornalista, de que eu deveria ser demitida por justa causa porter cometido falta grave, se deve a um problema de leitura do distinto senhor e suasfontes - o que fiz não é grave, é GREVE.Para quem se pretende jornalista, o Sr. Siqueira deveria, no mínimo, tentar seinformar melhor a respeito dos assuntos que quer abordar em sua coluna dedesinformação, bem como qualificar sua rede de informantes.

Vivien Helena de Souza RuizFuncionária da Unicamp desde 1986

Convocatótia de solidariedade à Vivien

CONVOCATÓRIA

Depois da luta, os derrotados tentam reverter a situação , de todas as maneiras,desde o chamado ASSÉDIO MORAL, á repressão aberta, se se sentirem fortes para isso.É a luta. E a luta não pára , como a própria vida que é luta. Claro que osreacionários não nos deixarão em paz, pois seu compromisso é com a morte, a guerra e a exploração. É exagero falar esta linguagem aqui no eldorado chamado Unicamp? É sorver a virulência dos textos dos professores reacionários (a maioria) , diretores (a maioria), membros docentes da CONSU(a maioria), tentando criminalizar o movimentoestudantil e de funcionários. E a reação só não funcionará se permanecermos unidos edermos respostas organizadas. Espero que todos estejam sabendo do caso da Vivien, onde um sr., no jornal CorreioPopular apontou o dedo-duro para ela, inventando as coisas mais idiotas, mas ao final pedindo que ela fosse "demitida ao bem do serviço
público".
O texto deste policial-"jornalista" dizia que Vivien apoiava o movimento estudantil - coisa que foi decisão de várias assembléias nossa, portanto de cada um de nós. Que apoiava os estudantes na ocupação - o que tembém foi objeto de aprovação de nossas assembléias. Dizia um outras tantas besteiras como: "Vivien feroz opositora de Lula e do PC doB"- como se opor politicamente fosse crime. Logo se vê que estepolicial-"jornalista" é um tolo e que seu jornal, o Correio Popular, emprega policiais e lhe dá a carteirinha de jornalista. Devemos reagir a este monte de tolice e deduragem? Acho que sim. Principalmente para não deixar que estes métodos policiais floresçam aqui na Unicamp. Mesmo porque a atitude da Reitoria e de muitos de seus apoiadores têm se expressado no desejo de se comportar como policiais e repressores.

POR ISSO ESTAMOS CONVOCANDO UM REUNIÃO PARA ESTA QUINTA-FEIRA, 05/07/07, NUMA SALADE AULA DO IFCH (IH-0?) - ÀS 12: HORAS. Para prontamente respondermos, unidos, estas ameaças.

A UNIVERSIDADE ESTÁ OCUPADA: SOBRE LUGARES, PALAVRAS E ESTRATÉGIAS.

“Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.”


(Maiakóvski)


Para que não precisemos esperar pelo futuro para darmos voz ao silêncio daqueles que não farão parte da história oficial, gostaria de poder dialogar - incitada pelos manifestos que circularam no site da Unicamp, em particular o manifesto da bancada dos professores do Conselho Universitário - sobre as idéias que construíram o repúdio de professores em relação ao movimento estudantil e às suas estratégias. Não tomos aqui os professores como sujeitos das nossas relações cotidianas, implicados diretamente no fazer pedagógico, mas como sujeito político que ao fazer uma fala pública, assume uma posição no interior de um "campo político".

Apesar de reconhecer a universidade como um lugar de exercício de idéias também reconheço, apoiada na teoria do discurso, que as palavras não significam nada por si mesmas. As palavras estão implicadas em disputa de poder, de modo que elas não podem ser apartadas da posição que ocupam os que falam. Num jogo em que na maioria das vezes não são os estudantes os que dão as cartas, esta fala não se presta a estabelecer assertivas de verdade sobre fatos e pessoas, mas tão somente produzir outros sentidos por dentro das contradições tanto do discurso quanto das práticas que marcaram uma situação particular de conflito com enormes desdobramentos políticos e pedagógicos.

Ao longo desses quase dois meses em que o movimento estudantil esteve na cena nacional algumas palavras foram recorrentes entre aqueles que se posicionaram criticando ou repudiando as suas ações: democracia, violência, privilégio, racionalidade entre outras. Penso que temos elementos para produzir extensos e profundos debates riticando ou repudiando as açes em que o movimento estudantil esteve na cena nacional, algumas palavras foram recorrentes entresobre essas palavras pelos sentidos que cumprem na tessitura da vida social. Este texto se propõe então a quebrar o silêncio e conclamar outras vozes que não partilham das interpretações dadas a fazerem o mesmo, sob risco dessas interpretações, dado o lugar da sua enunciação, virem a ganhar estatuto de verdade.

Inicialmente, gostaria de destacar que a democracia não pode ser entendida como um conceito racional positivo, fixo e estável, mas como um conceito que abarca interesses e projetos históricos distintos. Nessa perspectiva, há pelo menos duas formas de se pensar a democracia: aquela que a concebe como esfera estritamente político-institucional e aquela que a concebe como forma de vida social. Em um conceito ampliado, podemos falar de democracia social, cuja ênfase reside na questão da igualdade: econômica, política, educacional, entre outras.

No Brasil, ainda estamos por construir um modelo democrático que combine justiça social e participação ativa com representação política. A democracia representativa nos espaços de poder institucionais dadas as precárias condições sociais da democracia produz e reafirma interesses privados em nome do interesse público. É embrionária ainda a constituição de uma força popular num país marcado pela fome e pelo analfabetismo, capaz de interferir decisivamente na condução dos rumos da vida do país. Por outro lado, os grupos que se constituem como resistência ao controle da vida social por determinadas classes historicamente providas de condições favoráveis ao exercício da democracia, são considerados ameaça à ordem estabelecida e combatidos por esses mesmos setores que acreditam na perfeição do nosso modelo social.

A compreensão da plenitude da democracia é dada pelos lugares sociais que se ocupa. Os índios, os camponeses, os sem teto, os remanescentes de quilombos, os homossexuais não defenderiam a existência de uma plenitude democrática no Brasil. A plenitude democrática é uma condição daqueles que foram incluídos pela democracia, que usufruem dos seus princípios, dos seus valores e dos seus benefícios. Nessa perspectiva, o país ao qual se referem os professores em seu manifesto, não é o mesmo país em que vivem brasileiros não incluídos pela ordem democrática.

O movimento estudantil de maio de 2007 bloqueou entradas de prédios, mas abriu as portas, ante ao conflito institucional estabelecido, para revelar relações de poder e por sua vez, as fragilidades da democracia universitária, que não se restringe, como querem alguns, a ocupação de prédios públicos. Na Unicamp, o que se pode entender como "equilibrado estágio democrático" que os estudantes, em suas estratégias de luta, haviam desestabilizado? Os estudantes representam uma fração minoritária nos colegiados deliberativos, não podiam até à ocupação da Reitoria ocorrida recentemente organizar o processo de escolha de seus representantes, nas questões de conflito acadêmico e no suposto exercício do direito ao contraditório o juízo é aferido por aqueles que dispõem de maior peso de representação, os professores, que estão em melhores condições de representar as suas posições e defendê-las. Isso não quer dizer que os professores não possam tomar posições não corporativas. O que está em questão é o sistema de representação que torna desiguais as relações de poder. O diálogo, a negociação são palavras carregadas de encanto, mas quando o conflito de posições entra em convulsão sobrepõe-se a hierarquia, momento em que se revelam os devidos graus de poder de cada um. Nessa perspectiva, de forma semelhante a outros lugares sociais a universidade se assenta em relações hierárquicas, necessárias para manter a ordem social estabelecida, e nisso reside o seu "equilibrado estágio democrático". Feitas essas constatações, penso que o esvaziamento de algumas instâncias colegiadas por parte dos estudantes não enfrenta propositivamente o problema. O entendimento que os professores devam ter representação majoritária nos colegiados deliberativos merece um debate acadêmico em que possamos colocar a democracia na universidade como questão para a sociologia, a filosofia, a história, enfim, para os campos de conhecimento em que ela for pertinente. Ainda precisamos enfrentar como debate a pertinência ou não da adoção de formas políticas consolidadas na sociedade no interior da universidade. Assim colocamos a discussão num patamar muito mais elevado do que aquele que elege os professores como o versus dos estudantes.

Voltando ao manifesto dos professores, a afirmação que a ocupação da Dac (Diretoria Acadêmica) era uma ação política de "cidadãos privilegiados", merece um debate no interior desta Universidade. O que chama a atenção não é o posicionamento político diante das ocupações, mas o discurso conservador que qualifica os estudantes de universidades públicas como privilegiados. Etimologicamente, privilégio significa "lei excepcional concernente a um particular ou a poucas pessoas; favor, graça" (Dicionário Houaiss). O Brasil é um país onde historicamente a luta por direitos é entendida como luta por privilégios. Num país desigual, o discurso conservador conduz a que nos sintamos culpados por aquilo que conquistamos, ao invés de colocar em questão a própria sociedade que produz e mantém as desigualdades. Seriam os estudantes "cidadãos que gozam de privilégios" porque eles enfrentaram um dos mais concorridos vestibulares do país e conquistaram o direito de estudar numa universidade pública? A meu ver, estar na universidade pública, com professores qualificados, condições de estudo etc. não configura privilégio, afinal nenhum estudante conquistou esta condição por lei excepcional, por graça ou favor. Além disso, a educação pública de qualidade é um direito garantido pela constituição a todos os brasileiros, de modo que ela constitui um direito de cidadania. No entanto, é público que neste país, a universidade não existe para todos, assim como não é para todos os benefícios da democracia liberal. Incluir os que estão de fora, fora da sociedade, antes de tudo, é a grande causa civilizatória que precisamos enfrentar; aos que estão incluídos, que o silêncio e a apatia política não seja o preço da sua inclusão. A crítica à universidade, portanto, não pode ter como foco os incluídos, mas a sociedade desigual que construímos, desigualdade que interessa a determinadas classes manter e cuja ordem poucos desejam ou se dispõem a subverter.

Já é tempo de combatermos o discurso conservador que visa minimizar a ação do Estado no que se refere à educação pública superior. O conto de fadas de uma universidade de elite não se sustenta diante da existência de amplos setores que dependem exclusivamente das bibliotecas e dos laboratórios das universidades, assim como das políticas de desenvolvimento estudantil. Fernando Pessoa, num dos seus poemas mais conhecidos dizia que nunca havia conhecido quem tivesse levado porrada e que todos os seus conhecidos tinham sido campeões em tudo, príncipes na vida. Diferentemente de Fernando Pessoa não estamos cercados de príncipes. A realidade da vida de muitos estudantes desta instituição, em particular, é de labuta diária para sobreviver sem trabalho ou para equilibrar estudo e trabalho, trabalho precarizado e explorado, na maioria das vezes, ou para sobreviver segundo aquilo que permite as bolsas de estudo, para aqueles que lograram recebê-las. A pobreza é também uma face desta Universidade e pode ser encontrada no fundo dos quintais das casas de luxo do bairro de Barão Geraldo ou em cortiços de concreto espalhados pelo bairro, moradias com um único ambiente, mas com a função de quarto, sala e cozinha, pagas a duras penas por estudantes desta instituição.

De fato, há grupos de elite na universidade a quem não interessa a autonomia, porque a privatização do espaço público lhes traz grandes recompensas. De igual modo, a universidade carrega dentro de si os conflitos da sociedade como um todo, o que rompe com esta idéia de universidade como um lugar distinto da sociedade. Nessa perspectiva, há na universidade a mesma indiferença que caracteriza a elite brasileira em relação à corrupção política, à condição dos pobres, à violência e ao abandono do Estado – marcas da fragilidade do projeto social liberal – indiferença que se traduz na compreensão que "vivemos há muitos anos uma vida política nacional de plena democracia e de estado de direito", afirmação do manifesto. Plena democracia e estado de direito para quem? Diante dos acontecimentos que envolvem o Congresso Nacional, o poder executivo e judiciário, ao lado da impunidade, da guerra travada entre polícia e crime organizado, das vidas mutiladas daqueles que precisam necessariamente andar pelas cidades, diria que estamos muito mais próximos de um estado de exceção do que de um estado de direito. A propósito, os chamados "desvarios" dos estudantes, que segundo os professores signatários do manifesto publicado no site da Unicamp "tangenciam o crime comum", estão muito longe daquilo que estamos acompanhando cotidianamente como crime neste país.

A forma como a Universidade de Campinas, através do seu grupo dirigente, enfrentou a tensão e o conflito de interesses entre segmentos da comunidade universitária coloca em xeque a sua autoridade para julgar como antidemocrática e violenta a ocupação da Dac. O movimento estudantil, mesmo reconhecendo a destituição da sua condição de sujeito político, cedendo, portanto, à hierarquia da instituição e reconhecendo maior poder de influência dos professores, legitimou a existência de uma Comissão de Mediação e reiterou, com algumas pequenas modificações a carta por ela proposta, no intuito de encontrar uma saída satisfatória para todos os lados no conflito estabelecido. Havia uma sinalização da Comissão de Mediação que a Reitoria tinha a disposição de reconhecer a carta. Em resposta à assembléia do dia 26 de junho que deliberou por esses encaminhamentos, a Reitoria convocou uma reunião com os diretores de Unidade (todos professores) e em seguida convocou a bancada de professores do Conselho Universitário para apreciar a questão. Pelo desfecho, esses segmentos reiteraram a posição da Reitoria de não negociar com a Dac ocupada, ignorando desta forma o esforço da Comissão de Mediação e a disposição dos estudantes de resolver o conflito. Por que as bancada de estudantes e funcionários que formam o Conselho Universitário não foram convocadas pelo reitor? É conhecida na história política do país tal forma de resolver conflitos: destitui-se o poder daqueles que podem representar ameaça à realização de uma idéia ou de um projeto e se elege um grupo de confiança capaz de dar legitimidade a certos interesses em disputa.

Por ora diria que este fato político confirma o quão é desigual e, portanto, antidemocrática a relação entre professores, funcionários e estudantes desta instituição universitária. Se ocupar prédios é uma ação violenta e antidemocrática, eleger um grupo e dar a ele exclusivamente o poder de decisão numa instituição que se diz primar pelo diálogo e pela diferença, não educa e não favorece um novo aprendizado do exercício da política. Da mesma forma, este fato não diferencia a Universidade de outras instituições do país, que no exercício da política, firmam apoios e favorecem determinados grupos em detrimento de outros. A violência, portanto, tem muitas faces, e a violência simbólica que se mostra nas relações de poder é de igual modo um ato de força que marca a disputa de legitimidade entre a ação legal e a desobediência civil. Dito isso, acredito que precisamos colocar sob suspeita o entendimento que "é no ambiente acadêmico que combatemos a ignorância". O ambiente acadêmico também produz e legitima a sua própria ignorância porque somos sujeitos enraizados em uma sociedade, em uma cultura, em uma história, e essas são as condições de produção das idéias e das práticas que movem nosso fazer científico. Portanto, este ambiente carregado de projeto iluminista também comporta negação, regressão, degradação, daí a cautela para não tomarmos os seus progressos de forma automática, indefinida, natural, mas na sua temporalidade e provisoriedade. De igual modo, como cautela, a luta contra a ignorância não pode se converter no apagamento daqueles que não se enquadram na ordem do discurso racional.

As instituições da sociedade precisam construir melhores condições de exercício democrático. De fato, não podemos admitir a ocupação de prédios como recurso permanente de tensionamento político. Por outro lado, não podemos admitir as práticas autocráticas dos dirigentes das instituições de ensino superior e do seu aparato burocrático. A garantia de espaços políticos de interlocução das pautas estudantis, a liberdade de organização, manifestação e participação democrática dos estudantes nas decisões da universidade pode fazer florescer este espaço de racionalidade, de diálogo e de respeito às diferenças que todos parecem almejar. O diálogo implica necessariamente no reconhecimento da existência do outro, no reconhecimento do igual direito de participar das decisões da vida social e da construção do seu destino, de forma que o dialogo como premissa da democracia não pode se confundir somente com o direito de ouvir e ser ouvido, mas com condições objetivas de exercício da palavra, que perpassa pela ampliação do espaço público e de composição política que efetivamente torne possível o exercício democrático do poder.

A universidade é uma instituição pública, espaço de educação da sociedade, e não uma empresa na qual quem tem mais títulos está em condição de decidir pela vida de todos. Um melhor equilíbrio na participação de professores, funcionários e estudantes nas instâncias de decisão não pode mais ser enfrentado como ameaça à instituição, mas como exercício pedagógico necessário que permita aos estudantes, futuros dirigentes, não serem vencidos pela força da violência burocrática, mas persuadidos pela força das idéias e do argumento.

A forma como a Universidade de Campinas lidará com o tema das punições terá como implicações não apenas aspectos legais e normativos, mas sociais e pedagógicos. Todas as causas que motivaram a deflagração do movimento estudantil eram legitimas. A responsabilidade com o patrimônio, que sendo público, também lhe pertence, foi comprovada pela Comissão que inspecionou a Dac logo após a desocupação ocorrida no dia 28 de junho. Aliás, como prova dessa responsabilidade, os estudantes discutiram em assembléia o ressarcimento de bens caso houvesse alguma depredação do patrimônio. Se a ocupação em si, na ausência de dano ao patrimônio for o elemento a desencadear o processo disciplinar, viveremos um retrocesso na história e na pedagogia. Punição às lideranças por atos de natureza política, são práticas de sociedades autoritárias. Lideranças não fazem movimentos sozinhas, mas puni-las é uma forma exemplar de conter futuros movimentos. Tronco aos líderes rebeldes! Foi assim que no passado se educou para o medo e para a submissão. Hoje, as formas são mais sutis, mas não menos violentas para aqueles que quebram a ordem instituída. A ameaça que paira sobre os estudantes é de suspensão à expulsão, tal como foi noticiado no site da Unicamp, como se pudéssemos educar uma geração para depois contê-la e silenciá-la. Que isso não nos seja indiferente!


"Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando

Mas já é tarde"
. (Bertold Brecht)



Campinas, 29 de junho de 2006.

Eliana Felipe
Estudante de Pós-graduação da Faculdade de Educação

calendário IFCH: propostas da assembléia dos estudantes de graduação do IFCH

Os estudantes do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas reunidos em Assembléia no dia 2 de julho de 2007 deliberaram pelo fim da greve estudantil. Nesta Assembléia foi discutida a retomada das atividades acadêmicas do Instituto. Dessa discussão surgiram as seguintes propostas:

1- Prorrogação dos prazos de avaliação. Esta poderia ser viabilizada através do envio à DAC de uma nota provisória que seria substituída até o dia 21/08 para os estudantes de graduação e 12/09 para estudantes de pós-graduação.
2- Prosseguimento das aulas até no mínimo o dia 23/07, último dia para a entrada de médias e freqüência do 1 o. período letivo de 2007.
3- Adequação da avaliação com o conteúdo cumprido e com o tempo previsto para a preparação e/ou elaboração da atividade de avaliação.
4- Solicitação junto ao PIBIC de prorrogação do prazo de entrega dos relatórios finais das bolsas PIBIC/CNPq e bolsa pesquisa SAE/UNICAMP proporcional à duração da greve estudantil

Não as punições!

Estamos com uma ameaça de punição muito concreta aqui na Unicamp. Areitoria deve soltar um laudo sobre a ocupação da DAC ainda nesta semana em que apontará os líderes que responderão pelo processo e a comissão de sindicância será formada para apurar o casoe indicar as punições que devem ser aplicadas pelo CONSU e reitoria. 
Ainda nesta semana teremos informações mais concretas sobre isso e divulgaremos aqui no blog.

Pedimos que todos assinem uma petição online contra as punições dos estudantes na unicamp.
Esta é uma dentre as diversas formas de lutar contra essas punições.

Assinem e repassem, por favor.
http://www.petitiononline.com/unicamp1/petition.html

domingo, 1 de julho de 2007

Professores da Unesp... sobre o movimento estudantil e a cooptação da intelectualidade acadêmica

Oratio vultus animi est
(O discurso é o rosto da alma)
Antonio Carlos Mazzeo
Marcos Del Roio (*)

Que vivan los estudiantes
Jardin de nuestra alegria
Son aves que no se asustan
De animal ni policia
Y no le asustan las balas
Ni el ladrar de jauría...
Violeta Parra
As recentes manifestações nas Universidades estaduais paulistas revelaram questões e problemas muito sérios que estavam quase que invisíveis ou escondidos sob o tapete da nossa conturbada vida social. Essas mobilizações, inicialmente estudantis e que imediatamente reverberaram sobre os professores e funcionários das Universidades, expressaram fundos significados resultantes de uma crise social de grave intensidade, não apenas restrita aos muros universitários ou da consciência do papel do conhecimento e da educação em tempos de mudanças.
É certo que as manifestações das Universidades públicas paulistas tiveram por mote a insensibilidade, a truculência de um governo preocupado com os superávits primários, com a retenção de despesas sociais, e com o cumprimento de acordos políticos confessáveis e inconfessáveis. Mas as manifestações da comunidade acadêmica paulista transcenderam à mera reação indignada frente ao coup de main de Serra, ao estilo burlesco de Napoleon le petit, tentado para arrancar as verbas da Universidade pública para fins não explícitos. Foram para além dos atos de um governador que ignora as mais elementares regras democrático-institucionais, que atropela o parlamento estadual e que desastradamente tenta impor seu estilo autocrático à sociedade paulista.
As mobilizações universitárias, que tiveram na sua vanguarda os estudantes, lançaram à sociedade o debate sobre os rumos do publico e do privado em nosso país. Puseram a nu as perversas intenções privatistas e “neoliberais” do Napoleon le Petit da Moóca, mas que não se restringem aos portões do Palácio dos Bandeirantes, porque enraizados num outro palácio, o do Planalto. A luta dos estudantes, funcionários e professores por melhores condições de ensino, pesquisa e trabalho, denunciou a degradação progressiva da sociedade brasileira com a desobrigação do Estado em relação ao conjunto dos trabalhadores, e a opção por um modelo econômico que privilegia os bancos e os monopólios.
Mas a movimentação das Universidades Estaduais paulistas, especialmente a luta estudantil, fez purgar ainda um outro grave e crônico tumor da sociedade brasileira: a cooptação. Produto esse indelével da tradição colonial e da condição de subordinação estrutural da economia brasileira aos pólos hegemônicos do capitalismo que fez gerar uma intelectualidade, também ela de cariz colonial e subalterna, estruturada no intimismo à sombra do poder. Particularmente aquela encastelada na burocracia estatal, servil aos seus interesses, materializando a desventura de um liberalismo de viés colonial e “autoritário”, geneticamente amputado de seu intrínseco democratismo burguês, tornado estruturalmente autocrático e bonapartista.
Velhos intelectuais intimistas da burguesia, e principalmente aqueles que se arrependeram de um dia, de algum modo, terem servido à causa do povo, transformados em neo-lacaios, esbravejaram contra a “agitação e a baderna estudantil”, clamaram reintegrações de posse para as reitorias e diretorias ocupadas pela brava desobediência civil dos estudantes e se regojisaram com a tropa de choque no Campus Universitário! Como as bruxas de Macbeth, cantaram a ladainha de que “o belo é podre, e o podre belo sabe ser”. Agourentos, evocaram os espíritos das maiorias silenciosas, repetindo como tragicômicos, o grito contra os subversivos de 1964. Na alma de seus discursos o rosto das tentações do “prendo e arrebento”.
Mas avisamos, o movimento não caminha solitário ou débil como no passado. Com ele outros setores da sociedade reivindicam, não o assistencialismo, pois esse o governo e a burguesia já oferecem como base de cooptação. A maioria da sociedade civil quer ir adiante, e luta radicalmente por direitos e justo reconhecimento, independentemente do que pensam os intelectuais a serviço da nova ordem do capital, que já não dormem tranqüilos à sombra de um poder cuja base material se esfacela dia a dia.


* Professores Livre-Docentes do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp